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Luis Marcel Loureiro Motta

Diretor de Saúde do Trabalhador e Assistência Social da Federação dos Servidores Públicos Municipais no Estado do Rio de Janeiro - FESEP RJ,

Presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Araruama

O SINDICALISMO NO BRASIL, UMA JORNADA DE LUTA NO AQUI E AGORA

              A luta sindical no Brasil é uma história marcada por diferentes momentos, alguns de avanço e outros de retrocesso. Cooptação, repressão, marginalização e tantas outras agruras enfrentadas pelos trabalhadores ao longo da história do país tem como contraponto a coragem, resiliência e a perseverança de tantas mulheres e homens que ousaram construir organizações de lutas trabalhistas por todo o país.

             Inicialmente concentrada em São Paulo, a tardia industrialização brasileira, no início do Século XX, apresentava um perfil de operários vindos do exterior, segundo PINHEIRO E HALL (1981), cerca de 74% dos trabalhadores em 1912 eram estrangeiros nas indústrias da referida cidade. Em grande parte, italianos, fugidos de uma Europa em crise e que vieram, em um primeiro momento, substituir a mão de obra negra nas plantações de café do estado paulista, entretanto, logo migraram para as primeiras indústrias do país, que se formavam com o intuito de substituir produtos importados do continente europeu, constituídas com o capital acumulado do café dos capitalistas brasileiros.

             Ao emprestarem sua experiência na consolidação das primeiras indústrias, estes estrangeiros também trouxeram sua ideologia junto, e logo, grande parte dos trabalhadores se organizavam em torno de ideias socialistas e anarquistas. Momento esse, brilhantemente retratado em Anarquistas Graças a Deus (1979), da escritora Zélia Gattai.

             As primeiras greves surgiam e incomodavam! Associados a estes conflitos urbanos, revoltas no campo, arcaico e patrimonialista, causavam uma grande crise nacional ainda no primeiro quartel do século passado, desta forma, o Governo Vargas, iniciado em 1930, parte, para buscar soluções para estas revoltas.

             Desta forma, a partir de 1930, com a criação do ministério do trabalho, a estrutura sindical passa a ser organizada em grande parte pelo Estado Brasileiro que buscava “descolar” o movimento sindical das ideias socialistas e anarquistas. A estratégia para a dominação do movimento era de cooptação e repressão, oferecendo novas possibilidades de direitos e reprimindo quem se opusesse a tal estratégia. A expressão desta política está na Consolidação da Leis do Trabalho, a CLT, em 1943.

            É importante destacar que, se por um lado os trabalhadores tiveram acesso a direitos pelo quais há muito lutavam, como férias, 13º e garantia de descanso, entre tantos outros, por outro lado, o Estado não extinguia às contradições internas do capitalismo nacional, permanecendo a favorecer às parcelas burguesas e industriais do país.

             Faz-se mister enfatizar a importância do imposto sindical criado em 1940 no bojo da CLT, e que viria a se transformar em contribuição sindical em 1966. Esta importante ferramenta seria vital para se organizar as lutas que o movimento sindical teria pela frente e que, como veremos à frente, foi surrupiada durante a gestão Michel Temer.

              Ao longo das décadas de 1960, 1970 e 1980, os sindicatos novamente seriam protagonistas nas lutas da sociedade brasileira, naquele momento contra a ditadura militar, impondo diversos enfrentamentos que serviriam, junto de outras colaborações, como sementes para a redemocratização do país.

              Durante a Constituição de 1988, a luta sindical, trouxe mais liberdade ao movimento sindical, retirando regras como a necessidade de autorização do Ministério do Trabalho para funcionamento de um sindicato e possibilitando a sindicalização dos servidores públicos. Além disso relacionou, no artigo 7º, os direitos dos trabalhadores urbanos e rurais e outros que visem à melhoria de sua condição social. No parágrafo único, listou os direitos assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos. No artigo 8º, estabeleceu a liberdade sindical; e, no artigo 9º, o direito de greve.

Infelizmente, apesar destes avanços o Direito à greve pelo funcionalismo público ainda necessita de ser regulamentado, diligência que vem sendo muito bem enfrentada pela Confederação dos Servidores Públicos do Brasil em suas ações.

              Em 2015 uma nova onda de retrocessos cruzou o caminho dos trabalhadores e trabalhadoras do Brasil. O então Governo Temer, alçado ao poder através de um golpe parlamentar contra a Presidenta Dilma Roussef, aprovara uma série de legislações que retiravam direitos dos trabalhadores e atacavam diretamente a autonomia dos sindicatos. A Lei n. 13.467/2017, também conhecida como Reforma Trabalhista, modificou de maneira profunda o mundo do Direito do Trabalho, sendo a estrutura sindical um dos pontos que mais sofreram alterações. Ao mudar a redação dos artigos 545, 578, 579, 582 da Consolidação das Leis do Trabalho, a Reforma Trabalhista extinguiu a contribuição sindical obrigatória, uma das principais fontes de renda dos Sindicatos brasileiros (SEPÚLVEDA, Sobrinho Gabriela, 2019).

             Felizmente, no último dia 1º de setembro, o Supremo Tribunal Federal formou maioria para a volta da contribuição assistencial para trabalhadores não sindicalizados, que ainda aguardará regulamentação. É muito importante entender a relevância deste instrumento para garantir as ações desenvolvidas pelos sindicatos no Brasil, ainda mais em um momento de avanço do desemprego estrutural e da flexibilização das relações de trabalho.

              Por fim, a história nos mostra que não existe garantias consolidadas para a luta do sindicalismo no Brasil, observamos, como este texto quis contribuir, avanços e retrocessos, muitas vezes caminhando juntos. Mas o que não podemos nunca é abrir mão da nossa força de luta, pois nada será ofertado à classe trabalhadora de “mão beijada”, o capitalismo brasileiro ainda convive com o paradigma da opressão, tão bem materializada na retirada de direitos no século presente, por isso e tudo mais que, enquanto não tivermos nossos direitos reconhecidos estaremos nas ruas de cabeça erguida lutando.

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